DA DISSIMULACÃO
escrevo, é certo, mais para ocultar
faco sonetos não sei bem por que
coloco em versos o que ninguem vê
ou sequer sente, nem quer escutar;
desloco este Parnaso até o inferno
onde vou me danar sem alforria
persigo - cego - o rastro da Poesia
e o que de mim pudera ser eterno;
me oculto no soneto, essa facanha
de todas a menor, a mais estranha
e atéao pensar o faco em decassílabos;
este meu coracão que à alma empresto
a ela contamina e , assim, de resto
não chove nem faz sol e a hora é incerta.